
Filmes de invasão domiciliar são comuns na história do cinema de terror. Hush, Quando um Estranho Chama e muitos outros títulos se tornaram bastante conhecidos e apreciados. Mas o que talvez você não saiba é que foi uma mulher quem ajudou a consolidar esse tipo de narrativa. Estou falando da diretora estadunidense Lois Weber, um dos nomes mais importantes da história do cinema. Seu currículo é marcado pela criatividade e pela ousadia: ela abordava temas controversos para a época e ainda desenvolveu recursos técnicos fundamentais para a linguagem cinematográfica.
Biografia
Florence Lois Weber nasceu em 13 de junho de 1879, em Allegheny, Pensilvânia. Iniciou sua trajetória no cinema em 1905, como atriz, e estrelou Hypocrites (1908), dirigido por Herbert Blaché, então marido de Alice Guy-Blaché. Poucos anos depois, Weber se tornaria a primeira diretora de cinema dos Estados Unidos. Sua estreia na direção aconteceu em 1911, quando codirigiu A Heroine of ’76. Até 1934, realizou cerca de 140 filmes. Além de dirigir, também atuava, produzia e escrevia roteiros.O que mais chamava a atenção em sua obra era a vocação para inserir crítica social nas narrativas. Weber levou às telas temas como aborto, drogas, prostituição e política, assuntos que escandalizavam a sociedade da época. Em uma de suas películas, chegou a incluir uma cena de nudez frontal, algo praticamente impensável para aquele período. Seu prestígio foi tamanho que conquistou um lugar na Motion Picture Directors Association, sendo a única mulher da organização durante muitos anos.Pioneira do horror
No campo técnico, Lois foi a criadora do uso expressivo da técnica de split-screen, em que a tela é dividida em dois ou mais quadros, ampliando as possibilidades narrativas. Em 1913, codirigiu Suspense, considerado um dos primeiros filmes de invasão domiciliar. Estrelado por Lon Chaney (um dos maiores nomes do terror) e pela própria cineasta, o curta apresenta a seguinte trama: uma mulher fica sozinha em casa com seu bebê quando um andarilho invade a residência.
A história é contada com o auxílio do split-screen, que em determinado momento divide a tela em três partes, mostrando simultaneamente a ação do criminoso, o desespero da esposa e a reação do marido ao receber a ligação telefônica. Detalhes como o corte do fio do telefone e a faca empunhada pelo invasor intensificam o clima de terror. Com apenas onze minutos, Suspense influenciou inúmeros diretores e consolidou uma narrativa que seria explorada em incontáveis filmes ao longo dos anos.
Esquecimento e legado
Lois Weber viveu anos de grande ascensão, mas as mudanças no cenário cinematográfico acabaram levando-a ao ostracismo. Sua última película foi realizada em 1934. Ela faleceu apenas cinco anos depois, aos 60 anos, em condições precárias: vítima do segundo marido, que a deixou na miséria após roubar todos os seus bens. Para além da tragédia pessoal, sua obra também foi apagada por décadas, até ser redescoberta por pesquisadoras como Shelley Stamp, autora do livro Lois Weber in Early Hollywood (2015).
Mais uma vez surge o questionamento: como uma mulher com uma contribuição tão significativa pôde simplesmente desaparecer da história do cinema?