O desaparecimento de Lisanne Froon e Kris Kremers - Parte 01







 



O ano de 2014 foi marcado por uma tragédia nas belas paisagens do Panamá. Duas jovens mochileiras, Lisanne Froon e Kris Kremers, provenientes da Holanda, desapareceram em uma das famosas trilhas da cidade turística de Boquete. Dois meses depois do desaparecimento, apenas fragmentos de seus corpos foram encontrados nas cercanias de um rio. O que teria acontecido com as duas? Elas se perderam na floresta ou teriam sido vítimas de um crime brutal? Depois de tantos anos, o fato continua sendo muito discutido em fóruns sobre true crime. Trata-se de um grande mistério, cheio de desdobramentos estranhos. 


O Panamá é um conhecido destino de viagens da América Central. O turismo é uma fonte de renda muito importante para o país. Mas, por trás de paisagens tão bonitas, existem vários casos de desaparecimento e violência contra turistas.  Catherine Johannet, uma estadunidense de 23 anos, foi assassinada em 2017. A jovem fazia uma trilha na província litorânea de Bocas del Toro. Uma mochileira alemã se perdeu durante uma trilha na cidade de Santa Fé, no estado de Veraguas, em 2017. A jovem foi encontrada pela SINAPROC, a defesa civil panamenha. Ao invés de ser levada em segurança para o hospital, a turista foi presa e violentada sexualmente pelos membros da busca e teve seus pertences roubados. Ela conseguiu fugir do cativeiro e buscar ajuda. Qual seria o seu destino se não tivesse conseguido escapar? Em 2009, Alex Humphrey, um mochileiro inglês de 29 anos, desapareceu sem deixar vestígios na cidade de Boquete, na província de Chiriqui. Alex deixou o hostel onde estava hospedado e tinha planos de conhecer o Balneário da Cachoeira Majagua. Ele nunca retornou desse passeio. Em 2014, na mesma cidade, duas jovens holandesas também sumiram sem deixar pistas. 

 


 


Lisanne Froon e Kris Kremers nasceram em Amersfoort, Holanda. Tinham 22 anos e 21 anos respectivamente. As jovens trabalhavam juntas e decidiram fazer uma viagem para o Panamá, onde trabalhariam como voluntárias. No dia 15 de março de 2014, as duas voaram da Holanda diretamente para a Costa Rica. Chegando na capital do país, a dupla viajou para Bocas del Toro, localidade panamenha conhecida como o Caribe do Panamá. As duas haviam acabado de se formar na universidade. Lisanne estudou psicologia e Kris era formada em Educação sociocultural. Segundo o site Koude Kass, seu plano era estudar História da Arte quando retornasse de sua “aventura panamenha”.  Chegando em Bocas del Toro, as jovens aproveitaram muito a cidade. Tiveram aulas de espanhol, curtiram a praia, fizeram amigos. Elas passaram duas semanas em Bocas e terminariam sua viagem em Boquete, uma cidade que fica na província vizinha, Chiriqui. Lá, elas trabalhariam como voluntárias, ensinando inglês para crianças. As jovens chegaram a comprar brinquedos e presentes na Holanda para os futuros alunos. Seus amigos e suas famílias doaram dinheiro para ajudá-las.

Elas saíram do litoral panamenho com tudo acertado. Ficariam em uma casa de família e começariam a dar aulas na segunda-feira. Quando a dupla chegou em Boquete e foram até a escola onde seriam voluntárias, ninguém sabia nada sobre elas. Dessa maneira, elas só conseguiriam começar seu voluntariado na próxima semana e teriam sete dias livres na cidade. Isso foi muito frustrante para as jovens, pois tinham tudo programado. Lisanne mandou uma mensagem para os seus pais, dizendo o quanto estava decepcionada por não iniciar as aulas naquela semana. Elas receberam um e-mail da escola, três dias antes de se apresentarem em Boquete, dizendo que estava tudo certo e, do nada, chegando lá, não havia nada para elas? Segundo Miriam, a proprietária da casa onde as meninas se hospedaram, por causa desse tempo livre, elas resolveram desbravar a cidade. Lisanne estava sentindo  dor de garganta no dia 31 de março.  Mesmo assim, elas decidiram fazer um passeio no dia 1º. Elas haviam planejado subir o vulcão Baru e conhecer uma fazenda de morangos no sábado, passeio organizado pelo guia Feliciano. Segundo um dos pais das meninas, elas não tinham mais nada agendado naquela semana. 


Lisanne e Kris, por alguma razão, decidiram explorar sozinhas uma área da cidade, a trilha El Pianista. Kris chegou a mandar uma mensagem de Whatsapp para o seu namorado, falando sobre o assunto. Um taxista teria levado as duas até a região. Ele as apanhou na escola Spanish by the River, onde elas estavam checando informações no computador sobre o local. Ele disse que deixou as duas garotas na trilha às 13:40h da tarde. Segundo o blog Koude Kass, porém, o relógio da câmera dizia o contrário, que o passeio teria começado às 11:00 da manhã. Elas levavam consigo uma mochila com uma máquina fotográfica, um cartão de seguro, dinheiro, celulares, um pouco de comida e duas garrafas pequenas de água. Aqui entra um ponto importante. Dois taxistas foram interrogados sobre o caso, Humberto e Leonardo. Humberto teria levado as meninas para a região no dia 31 de março, no mesmo horário apresentado por Leonardo. Nesse dia, as jovens teriam feito um curto percurso da trilha Piedra del Lino. Só que nenhum dos taxistas lembra com exatidão se realmente transportaram as garotas até lá, pois não teriam prestado atenção para a aparência delas. Apesar de Boquete possuir um grande fluxo de estrangeiros, Kris e Lisanne tinham uma aparência distinta. Kris tinha cabelos alaranjados. Lisanne era uma jovem loira e alta.  Existe algo muito estranho com o depoimento desses taxistas, principalmente sobre o horário apresentado por Leonardo, o suposto taxista do dia 1º. O horário fornecido por ele não bate com o começo da caminhada das jovens. Pela análise do celular e da câmera delas, o percurso foi iniciado às 11:00 da manhã. Por que ele mentiria sobre o assunto?


As meninas teriam sido advertidas por moradores do começo da trilha para que não subissem sozinhas. E o motivo é muito simples: alguns casos de roubo estavam acontecendo na região. A El Pianista também seria muito usada por traficantes, já que é uma ligação direta com a província de Bocas del Toro.
Elas seguiram e teriam levado o cachorro Azul, pertencente aos donos do restaurante que fica no começo do sendero. O animal costumava acompanhar os visitantes na longa caminhada. O cão voltou para o estabelecimento, mas as meninas nunca mais foram vistas com vida. 


A máquina fotográfica, a qual foi encontrada dois meses depois, mostrava que as duas garotas alcançaram o topo da trilha, chamado Mirador. Além disso, outras fotos indicam que, ao invés de retornar, elas resolveram continuar, seguindo pela área da divisa continental, em direção da região de Alto Romero, algo que não é indicado pelos locais por se tratar de uma trilha pouco sinalizada.  Provavelmente teriam se perdido por acreditarem que, seguindo a trilha, estariam de volta em Boquete.  Quando os celulares das jovens foram recuperados, foram encontradas ligações para o número de emergência holandês, indicando que algo aconteceu.  A primeira ligação ocorreu por volta das 16:00 da tarde. Entre a última foto tirada na região da Quebrada, um pequeno córrego e a primeira ligação para o número de emergência, existe um grande enigma: o que teria acontecido com as jovens nessas duas horas?


Miriam, a dona da casa onde elas estavam hospedadas, percebeu que as duas jovens não haviam chegado, mas achou que haviam ido para outro lugar, algo que seria comum entre os jovens que hospedava. No outro dia, pela manhã, o guia Feliciano apareceu na escola, às 08:00 da manhã, afirmando que estava lá para levar as duas jovens para um passeio. Como elas não apareceram, uma das empregadas da escola, Eileen, ligou para Miriam. Ela disse que eles deveriam ir até a residência, indicando o lugar de uma chave reserva. Eles foram até lá, abriram o quarto e perceberam que ninguém havia dormido nas camas. Eles ficaram por cerca de meia hora no dormitório das garotas. Feliciano, por alguma razão, deixou um de seus cartões profissionais no local. Ao invés de irem para a polícia ou ligar para Miriam novamente, falando sobre o desaparecimento das jovens, o guia e a funcionária da escola foram para a fazenda de café, propriedade de Feliciano. Eles só iriam até a polícia às 19:00 horas da noite. Antes disso, Eileen e Feliciano foram ao quarto das garotas pelo menos mais uma vez.

 

Mesmo com a urgência de serem encontradas, a defesa civil do Panamá, o SINAPROC, só começou as buscas no dia 04 de abril. E pediram que ninguém fosse até a trilha nesse período de espera. O guia Feliciano, porém, contrariando as autoridades, partiu em uma busca pelas meninas na trilha no dia 03 de abril. Segundo ele, nada foi encontrado. Haviam outros grupos independentes tentando encontrá-las nesse intervalo que o organismo panamenho não entrava em ação por motivos burocráticos.
Mesmo usando helicópteros e com um pessoal nas trilhas, a defesa civil panamenha não encontrou nenhum sinal das holandesas. Dez semanas depois, uma indígena da região de Alto Romero, localidade que fica localizada a cerca de 18 horas de caminhada da região onde elas desapareceram, encontrou a mochila das garotas. Dentro dela estavam: os sutiãs das jovens, a máquina fotográfica, dinheiro, os celulares, uma garrafa de água e os óculos de sol das duas. A indígena teria dado a bolsa para o guia Feliciano, o qual tem uma fazenda de café nas cercanias. Foram encontradas 34 digitais diferentes na sacola e nos objetos, mas a polícia do Panamá não as investigou com muito afinco por alguma razão. Betzaida Pitti, a chefe de investigação também não teria pedido uma investigação quanto as amostras botânicas e de solo recolhidas na bolsa. 


A mochila foi encontrada no Rio Changuinola (também chamado de Culebra), cuja foz é um grande lago de uma hidrelétrica. No dia 09 de julho de 2014, um grupo de policiais, com a ajuda de índios e dos guias, encontraram na mesma região da mochila fragmentos de ossos e o sapato de uma das meninas, Lisanne. O seu pé ainda estava dentro do calçado. Os ossos ainda continham carne e pele e estavam bem preservados. A bota foi encontrada pelo guia Feliciano e estava quase embaixo de uma árvore.  O guia Laureano também encontrou o shorts jeans de uma das garotas dentro do rio. O grupo também achou um pedaço de osso pélvico e uma costela. Depois de análises, os médicos legistas não conseguiram concluir a causa da morte das meninas. Não haviam sinais de cortes, abrasão ou marcas de animais nesses fragmentos. O pedaço do osso pélvico de Kris, porém, possuía traços de cal. Isso explicaria o porquê de estar tão branco. A impressão era de que o fragmento ficou exposto ao sol por muito tempo. Na região, os agricultores usam muito óxido de cálcio em suas plantações. Mas vale lembrar que o produto também é usado por criminosos que desejam que algum corpo entre em estado de decomposição mais rápido. 


Mas a cereja do bolo ainda chegaria, deixando o caso ainda mais estranho. Uma bola de pele foi encontrada na região em agosto de 2014. Depois de exames de DNA, foi constatado que pertencia a uma das meninas. A pele, após cinco meses do desaparecimento das jovens, estava em um estágio inicial de decomposição. Os médicos legistas afirmaram na época que o material foi entregue pela responsável do caso e não havia nenhuma identificação de onde ele fora descoberto. O formato também era interessante. Não era algo natural. O pedaço de epiderme foi manuseado por alguém. Isso é uma situação muito estranha. Como um pedaço de pele esteve exposto ao calor de uma floresta tropical por cinco meses e estava tão conservado? Aqui existe uma grande contradição. Em um primeiro momento, o instituto forense do país afirmou, com auxílio de DNA, que a pele pertencia para a jovem desaparecida. Mas o exame final garantiu que tratava-se de um pedaço de pele de uma vaca.

 

Parte II

Parte III

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Atualizado em: 23/08/2023


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