O terror cubano de Alejandro Brugués




Hoje o Final Girl vai para Cuba literalmente. O meu convidado da vez é o diretor Alejandro Brugués, o pai de Juan de los Muertos (2011), o primeiro longa-metragem de terror cubano. Alejandro começou a sua carreira com o longa Personal Belongings (2006). Seu último trabalho é um episódio da antologia de terror "Nightmare Cinema" (2018).
Em sua entrevista ao projeto Final Chica, Brugués fala um pouco sobre o seu filme de zumbis e o cinema de terror feito em Cuba.

[FG] Seu primeiro longa-metragem é um drama. O que te levou a dirigir filmes de terror?

Eu sempre gostei muito de terror. Acho que nunca pensei nisso porque em Cuba não há tradição de filmes de terror, e como isso não tinha sido feito, foi algo que nem passava pela minha cabeça. Até que de repente eu tive a ideia e foi uma daquelas coisas que quando você pensa nisso você não pode soltar. Não tinha sido feito, mas eu sabia que tinha que encontrar uma maneira de fazê-lo ou não conseguiria tirar da cabeça.

[FG] Quais são as tuas principais referências no cinema de terror?

Um montão. Começando por Evil Dead do Sam Raimi, que foi provavelmente a primeira película de terror que eu vi quando era criança e fiquei louco. É claro que estão todos os clássicos, O Massacre da Serra Elétrica, A Hora do Pesadelo, A Coisa, Halloween, todas as coisas que víamos enquanto crescíamos nos anos 80. Muitos slashers. Eu sabia de memória cada morte do Sexta- Feira 13. Vi todo o terror que colocava nas mãos. Mas, para "Juan", especificamente, foquei sobretudo nas películas de zumbis, desde os clássicos do Romero, onde ele trabalhava o tema social, até as grandes comédias, como Fome Animal do Peter Jackson e, obviamente, Todo Mundo Quase Morto do Edgar Wright. E muitas outras que não eram necessariamente de zumbis, mas tematicamente tinha a ver, como Os Caça-Fantasmas. Também tive muitas influências de cineastas que eu gostava, como Sergio Leone, mais além do gênero que eu estava trabalhando. Eu acho que quando você se deixa influenciar, não se deve ser limitado por gêneros.

[FG] "Juan de los Muertos" segue a tradição da crítica social e os zumbis. É uma película genial. É muito interessante está parte do filme, de como você pôde fazer humor e terror dos problemas de Cuba. Como surgiu a ideia da película?

A ideia surgiu de uma piada. Falando com meu produtor um dia que caminhávamos pela rua, vendo as pessoas ao nosso redor e lhe disse que pareciam zumbis e que poderíamos fazer um filme com gente assim e não íamos nem precisar de maquiagem e poderia se chamar Juan de los Muertos. E ali mesmo soube que ia ser a próxima que eu iria escrever. Havia surgido com a piada um tom, um personagem, um gênero, um subtexto social. A partir dali fui começar a aprofundar isso.

[FG] Como foi a recepção de Juan de los Muertos em Cuba?

Muito boa. A primeira apresentação no Festival de Cinema de Havana, haviam 14 mil pessoas tentando entrar no cinema. Filas nas quadras, esperando desde a manhã para entrar na apresentação à noite, com caminhões da polícia para manter a ordem. Ganhamos o prêmio do público nesse festival. É um filme que as pessoas têm muito carinho. Eu ainda encontro pessoas na rua que dizem que viram cinco vezes e conhecem os diálogos de cor.

[FG] Os políticos de Cuba não se incomodaram com o filme?

Um pouco sim, mas qual a diferença? Eu não fiz isso por eles. E quando a viram, ela já tinha feito muitos festivais e ganhou prêmios. Não havia como parar.

[FG] Como você analisa a produção de terror em Cuba?

É praticamente inexistente. Antes de "Juan" eram feitos somente curtas, a maioria do Jorge Molina, que é o ator que faz o papel de Lázaro en "Juan". Molina é diretor de cinema e é muito bom. Uma das pessoas que mais conhece o gênero. Ele se envolveu muito no terror com seus curtas. Creio que depois houveram vários projetos de longa-metragens, mas muitos não foram feitos. Sim, foram feitas outras películas do gênero. Creio que pouco a pouco vão seguir mudando isso e cada vez se abrirá mais.

[FG] O que você acha que é necessário para o gênero crescer na ilha?

Eu acho que há algo que vem do ensino. Nas escolas de cinema, os cineastas "importantes" são muito estudados e o terror ainda é considerado um gênero menor. Na minha opinião, é o oposto. O terror é um gênero que tem tudo, você pode trabalhar do drama à comédia no terror. Além disso, é perfeito para tocar questões sociais e fazer uma reflexão da sociedade. É o gênero que melhor se encaixa e reflete os tempos. Mas ainda é considerado menor. Quando isso mudar e começarmos a ver os grandes clássicos do terror e as contribuições que eles fizeram para o cinema, vamos ver muito mais filmes de terror. E também há um tema geracional. Eu acho que as novas gerações de cineastas estão mais abertas a esse tipo de influência desde jovens.

[FG] O filme de terror na América Latina ainda é um gênero muito restrito. Por que você acha que isso acontece?

Tem relação com a minha resposta anterior. O terror é infelizmente considerado um gênero menor. Mas também tem a ver com o tipo de terror que tentamos fazer em nossos países. Nós não podemos apenas querer imitar o terror americano. Nós temos que fazer o nosso. Olhar para dentro e ver como nós refletir através desse gênero.

[FG] O que falta para o cinema de terror ter mais reconhecimento?

Para fazer terror há que saber entendê-lo. Creio que tem que partir dos cineastas que conhecem e amam o gênero. Temos que poder falar dos nossos problemas e nossos conflitos. Muita gente quer fazer terror porque creem que é um gênero que não é caro de fazer e gera ganância. É um erro ver somente como isso. Ao terror há que se aproximar com respeito. E seria bom ter orçamentos decentes. Muitas vezes o terror sofre justamente porque é visto como barato comparado com outras coisas. Mas creio que o principal é fazê-lo com o coração. É um gênero que trabalha com os sentimentos primários. É justo que saia também de um.


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