O terror da República Dominicana: Conheça o cinema de Javier Vargas






Hoje, no projeto Final Chica, retornamos para a América Central. Vamos até a República Dominicana para conversar com um dos maiores expoentes do cinema do país, o diretor Javier Vargas. A filmografia de terror dominicana é muito recente. Deu seus primeiros passos com o longa-metragem Andrea (2005), dirigido por Rogert Bencosme. Em 2008, Javier, que era apenas um jovem universitário, resolveu dar continuidade para esse movimento cinematográfico, lançando o filme Las Cenizas del Mal. A película conta a história de um culto diabólico e teve uma repercussão muito positiva no país e, desde lá, o diretor tem mantido vivo o gênero nessa parte do Caribe. Seu segundo filme, Cuentos do Camino (2017), é uma homenagem ao folclore e lendas nacionais. 
 
Nessa entrevista, discutimos sobre os seus dois longa-metragens, suas influências e é claro, o cinema de terror dominicano.
[FG] Com que idade você começou a se interessar pelo terror? O que mais lhe atrai no gênero?
Com 16 anos eu já sentia a inclinação pelo gênero do terror e temas relacionados com o mistério. Além de fazer o espectador sentir uma sensação de desespero, eu amo o alívio que é sentido depois de estar em uma situação de terror, onde parece que você nunca vai sair, mas no final é gratificante saber que você pode superar o medo.
[FG] Como foi filmar Las Cenizas del Mal?
Las Cenizas del Mal foi meu primeiro filme, no momento em que eu estudava na universidade. Foi  um grande desafio pra mim. Não tinha os recursos necessários, ainda que o escrevi com a intenção de que fosse uma película de baixo orçamento. Levantei um orçamento de um milhão de pesos e naquele momento consegui um financiamento por parte da Universidade UTESA e então o orçamento aumentou para quatorze milhões de pesos. Passamos por muito trabalho durante a rodagem e aprendemos muito. Foi uma grande experiência os quarenta dias de gravações. Trabalhando em horários extremos, dentro da montanha, de noite. Todo dia trabalhando com máquinas. Éramos todos jovens, a maioria universitários, com sonhos e ilusões de que esse seria um grande filme.
[FG] Como surgiu essa história desse culto diabólico?
Quando decidi escrever essa história foi justamente numa época em que jovens de diferentes regiões cometeram atos de satanismo e essas notícias apareceram em todos os meios e é aí que me concentro, para aprofundar mais o assunto até conseguir escrever o script baseado nesses eventos reais.
[FG] Cuentos de Camino é a história de um homem que relata acontecimentos sobrenaturais de sua juventude. A premissa do filme é muito interessante. Como a ideia surgiu pra você e o que te inspirou enquanto você escrevia o roteiro do filme?
Em Nova York, um familiar me disse: já que você está fazendo películas de terror, por que você não faz um filme com temas das lendas locais e tradições da cultura dominicana? E isso acendeu a lâmpada. Cuentos de Camino é uma palavra muito utilizada em nosso país. É muito mencionada nas zonas periféricas. É daí que surge o título. Mesclei a frase com a história de terror e surgiu Cuentos de Camino. Um senhor narra seus encontros com seres do além durante a sua juventude, em um campo da região montanhosa da República Dominicana. Ele é atormentado por esses seres que já estão falecidos há muitos anos e saem pelas noites, enquanto ele narra suas histórias.
[FG] Cuentos de Camino é uma película que fala das lendas e histórias da República Dominicana. Qual é a importância para você de levar para o cinema esses registros do país?
Basicamente o meu interesse é que conheçam as tradições dominicanas em outras regiões e que nos vejam como um país que tem identidade em todos os sentidos.
[FG] E qual é a sua lenda favorita da República Dominicana? 
A minha favorita é a dos vagalumes. Agora te explico. Quando eu era pequeno na comunidade onde fui criado com meus avós, nas noites, como não havia energia elétrica e era tudo muito escuro, na escuridão apareciam os vagalumes com uma luz verde e eram vistos em toda a estrada e nas montanhas. Chamavam essas luzes de "Cucuyos" e os anciões do campo diziam que essas luzes eram os mortos que saiam a noite de suas tumbas para visitar aqueles que viviam no campo. Essa lenda era muito assustadora para mim, porque como vivia em um bairro e não via essas luzes lá, quando estava nos meus avós, eu tinha um medo terrível quando uma dessas luzes passava por perto. Hoje recordo que essa lenda definitivamente me marcou muito.
[FG] Como foi filmar um filme de terror na República Dominicana?
Em nosso país não se faziam películas do gênero terror. Basicamente, somos a primeira ou a segunda em 2007. Pensei que ia ser um "boom", tínhamos os recursos, a história, muitas coisas foram facilitadas com recursos, mas como os filmes mais produzidos são as comédias, foi um desafio poder competir contra esse gênero, ainda que não tinha nenhuma intenção de competir. Mas produzir o meu filme não foi fácil, mas conseguimos. A comunidade universitária apoiou-nos bastante na estreia.
[FG] A recepção do público mudou de 2008 para 2017?
Definitivamente creio que sim. Las Cenizas del Mal recebeu um grande apoio a nível nacional, tanto por parte da crítica especializada como dos espectadores. Exibimos por quase cinco meses nas universidades a nível nacional e todas as sessões sempre estavam vendidas. Para o Cuentos de Camino, pudemos sair do país, exibimos nos cinemas a nível nacional e estreou mundialmente no United Palace de Nova York. Participou da Seleção Oficial do Festival de Cinema Latino-Americano da Romênia e em um festival de cinema de terror do Canadá. Nos deram um grande apoio nos cinemas da República Dominicana. De igual maneira, os críticos escreveram sabiamente a favor da história.
[FG] O que você acredita que tem de diferente no cinema de terror feito na República Dominicana?
Creio que cada país tem seus recursos e o cinema de terror dominicano é o nosso, para mostrar nossa cultura e tradições, que são muito diferentes das de outros países. São muito nostálgicas e tem um outro ponto de vista.
[FG] Sua próxima película é uma comédia, chamada Motoconcho. Você ainda pretende fazer filmes de terror no futuro?
Claro que vou seguir produzindo filmes de terror. Inclusive, nesse momento, estou lendo minha nova história de terror. A escrevi em 2012. É bastante forte a trama. Creio que o público a receberá bem.


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