Wolf Creek (2005) - Direção: Greg McLean
O filme, dirigido por Greg McLean, retrata a viagem de três mochileiros interpretados por Cassandra Magrath, Kestie Morassi e Nathan Phillips. Duas jovens inglesas decidem encerrar seu mochilão pela Austrália com um tour de carro de três semanas, acompanhadas por um amigo australiano. A primeira parada é o Parque Nacional de Wolf Creek, um local que realmente existe e está situado em uma região extremamente isolada.
Logo ao chegarem nas cercanias do parque, eles são recepcionados por cidadãos rudes que assediam as jovens. Assustados, seguem viagem até o ponto turístico e passam o dia explorando a cratera. No entanto, ao anoitecer, quando tentam sair do local, o carro apresenta problemas. Como a região é completamente desabitada, decidem passar a noite no veículo, esperando o amanhecer para buscar ajuda.
No meio da noite, eles acabam sendo "socorridos" por um caçador de cangurus. Mick Taylor (John Jarratt) é um homem típico do deserto australiano, dono de uma risada macabra. Ele oferece ajuda e leva o trio até sua casa, prometendo consertar o carro. No entanto, o que parecia ser um ato de bondade logo se transforma em um pesadelo, quando o homem revela sua verdadeira natureza.
Greg McLean conduz a película com maestria, explorando um universo de terror totalmente plausível. Não estamos lidando com um vilão sobrenatural; Mick Taylor é um assassino torturador real. Ele poderia ser seu vizinho: o típico "cidadão de bem" de uma pequena cidade do interior, solícito durante o dia, mas capaz de cometer atrocidades quando a noite cai.
John Jarratt é simplesmente genial e conseguiu transformar esse assassino caipira australiano em um personagem profundamente macabro. Taylor é uma figura crível e original. No universo do horror, é muito fácil que um ator caia em clichês e redundâncias, mas Jarratt investiu em um perfil único e particular para esse assassino.
Eu adoro a franquia Wolf Creek e, mesmo reconhecendo que o enredo já está um pouco desgastado após dois filmes e duas temporadas de uma série televisiva, John ainda consegue adicionar um tom sombrio e intenso ao serial killer a cada nova produção. Isso me impressiona profundamente — e me assusta na mesma medida. Mick Taylor, como mencionei antes, ultrapassa as barreiras da ficção. Ele é um personagem que poderia realmente existir no outback australiano, um verdadeiro "Crocodilo Dundee das trevas". Quanto mais John Jarratt se sente à vontade no papel, mais intenso e maquiavélico Mick se torna. E McLean percebe isso, explorando ao máximo essa evolução no segundo filme e também nos episódios da série.
Além do vilão, outra coisa que me impressiona profundamente neste longa é a ambientação, construída de forma magistral pela trilha sonora. Mesmo que você comece a assisti-lo totalmente desavisado(a), sem sequer ler a sinopse, fica claro desde o início do filme que algo terrível acontecerá em algum momento. Desde o começo, muito antes de o horror se manifestar na tela, somos apresentados a diversas cenas felizes dos jovens entre amigos, se divertindo. No entanto, esses momentos não são genuínos para o espectador. O cineasta utiliza uma música incidental melancólica que sugere, de forma sutil e angustiante, que estamos presenciando os últimos momentos daquelas pessoas. É bastante desolador.
O diretor não poupa ninguém em momento algum. Primeiramente, ele faz com que o espectador crie um vínculo de afeição com os jovens, o que difere do padrão habitual do cinema de horror hollywoodiano, onde os personagens frequentemente são estereotipados e facilmente dividimos nosso afeto ou desprezo por eles no início da história. Em Wolf Creek, não há grandes diferenças de personalidade entre eles — eles são figuras genuínas e comuns. São três jovens que apenas querem conhecer a Austrália. Por isso, em nenhum momento você deseja que sejam eliminados pelo assassino. Pelo contrário, você sente vontade de protegê-los.
Kestie Morassi, inclusive, protagoniza uma das melhores cenas do longa. Sua personagem, desesperada, foge ensanguentada por uma estrada vazia, no meio do nada, enquanto o assassino se aproxima. É uma sequência extremamente impactante. McLean quebrou meu coração em mil pedaços nessa sucessão de takes. Essas imagens ganham ainda mais força quando projetadas em uma tela de cinema. Duvido que você não tenha sentido a mesma vontade que eu de invadir a ficção para ajudar aquela pobre garota.
Em resumo, Wolf Creek é uma obra de terror onde o cineasta não cede para a ficcionalização extrema do longa. O terror apresentado abraça a realidade e é fiel aos eventos trágicos que basearam o filme. O roteiro é inspirado nos crimes praticados por Ivan Millat, um assassino em em série da Austrália que assassinou vários turistas. O gênero do horror muitas vezes aposta em finais felizes, onde garotas sobrevivem ao derrotar o monstro e restauram a paz do cotidiano. Mas, na crueza do mundo, às vezes os seres monstruosos são mais fortes do que as vítimas. É sobre isso que este filme trata: sobre a invencibilidade sazonal do mal.