O horror de Alice Guy-Blaché



 Alice Guy-Blaché (Alice Guy) – (01/07/1873 –24/03/1968)

Local de Nascimento: Saint - Mandé -  França

Diretora, produtora, roteirista, figurinista, montadora, atriz, diretora de fotografia, etc.

Alice Guy nasceu em Saint-Mandé (França) em 01 de julho de 1873. Como a família da diretora tinha negócios no Chile, ela viveu durante alguns anos da infância na América do Sul, retornando à Europa para estudar. A próspera rede de livrarias e a editora mantidas em terras chilenas pela família Guy acabou indo à falência, o que transformou a vida de Alice. Como seu pai adoecera por causa de seus problemas financeiros, e veio a falecer, Alice precisou procurar um emprego como secretária para sustentar sua mãe. Seu segundo emprego, em 1894, foi na empresa Comptoir Général de Photographie, que mais tarde foi adquirida pelo inventor e industriário León Gaumont, tornando-se a Gaumont Film Company.


Apesar de concorrentes, Gaumont era muito amigo dos Irmãos Lumière. Quando os franceses exibiram pela primeira vez o cinematógrafo na Société d’encouragement pour l’industrie nationale, em Paris, Alice foi prestigiar o evento junto com o chefe e ficou totalmente deslumbrada com o pequeno filme La Sortie de l’usine Lumière à Lyon (A saída da fábrica Lumière em Lyon), que mostrava alguns funcionários saindo de uma fábrica. Ela então pensou: “por que não contar histórias usando essas câmeras?” Em um trecho de suas memórias, incluído no livro Alice Guy Blaché: Lost Visionary, a diretora relatou como começou a colocar suas ideias em prática nos filmes da empresa.

Tanto Gaumont, como os Lumière, estavam especialmente interessados em resolver problemas mecânicos. Era mais uma câmera para ser colocada à disposição de seus clientes. Os valores educacionais e de entretenimento dos filmes pareciam não chamar sua atenção. No entanto, havia sido criado na ruelle des Sonneries um pequeno laboratório para o desenvolvimento e impressão de pequenas tomadas: desfiles, estações de trem, retratos do pessoal do laboratório, que serviam como filmes de demonstração, mas eram breves e repetitivos — Eu pensei que alguém poderia fazer melhor que esses filmes de demonstração. Reunindo minha coragem, propus timidamente a Gaumont que eu pudesse escrever uma ou duas pequenas cenas e ter alguns amigos atuando nelas. Se o desenvolvimento futuro dos filmes tivesse sido previsto neste momento, eu nunca deveria ter obtido seu consentimento. Minha juventude, minha inexperiência, meu sexo, tudo conspirou contra mim. Eu recebi permissão, entretanto, nesta condição expressa de que isso não interferiria com meus deveres de secretaria. (BLACHÉ, 2002, p.48-49).

Por muito tempo, o diretor francês Georges Méliès foi erroneamente considerado o primeiro diretor de ficção da história, mas, antes da estreia de seu primeiro curta, Blaché já havia realizado seu próprio filme com uma narrativa ficcional. Como ela não chegou a exibi-lo publicamente, Méliès acabou ficando com a fama. O primeiro experimento cinematográfico de Alice foi A Fada dos Repolhos (La Fée aux Choux), concebido em 1896. Depois disso, ela dirigiu todos os filmes de ficção da Companhia Gaumont até 1905. Blaché gostava de fazer experimentos e era fascinada pelo trabalho de diretores como Georges Méliès e Georges Hatot, entre outros. Tanto que, em diversas oportunidades, inventou truques de câmera, como dupla exposição e outros efeitos para seus pequenos filmes. Além disso, ela também foi a inventora do remake.  É isso mesmo! A diretora produzia novas versões tanto de seus próprios curtas quanto de filmes de seus diretores favoritos. E não para por aí. Sabe aqueles closes de câmera que todo mundo atribui ao D. W. Griffith? Foram criação de Blaché. Ela passou a usar close-ups em La Course à la saucisse (1906). Também criou o lip sync e também foi pioneira na concepção de videoclipes.

Blaché era interessada em todos os aspectos da produção cinematográfica. Procurava locações, organizava os figurinos, escrevia, produzia e dirigia. Em 1910, junto com o então marido Herbett Blaché, imigrou para os Estados Unidos, e abriu sua companhia cinematográfica, a Solax Company. Segundo sua biógrafa Alison McMahan, a diretora ficou nos Estados Unidos até 1922, retornando para a França após o seu divórcio. Passou o resto da vida longe dos sets de filmagens,  escrevendo ficção para revistas e novelizando scripts. Nunca mais dirigiu nenhum filme. Mas seu legado já era impressionante. Entre os anos de 1896 e 1920, segundo o IMDB, a cineasta já tinha dirigido 444 películas. Anos mais tarde, ela retornaria para os EUA para viver com sua filha, onde viria a falecer em 1968.

Blaché e o terror

A diretora francesa explorou diversos gêneros do cinema. Produziu filmes bíblicos, dramas, comédias, cinema de atrações e até mesmo obras que abordavam o feminismo. Além disso, é considerada pioneira do horror. Em 1900, lançou Turn of the Century Surgery, um curta macabro que poderia ser visto como precursor de filmes como O Albergue (Hostel, 2006) e Jogos Mortais (Saw, 2004). Em 1913, adaptou o conto O Poço e o Pêndulo, de Edgar Allan Poe. No ano seguinte, dirigiu The Monster and the Girl. Também explorou o vampirismo em Vampire, sua última produção, lançada em 1920.

Mesmo com esse breve panorama, é possível perceber a importância de Alice como realizadora audiovisual. Sua contribuição é indiscutível e abriu caminho para que outras mulheres pudessem fazer cinema, como a estadunidense Lois Weber, atriz que protagonizou alguns filmes de Guy, e que também se tornaria diretora e roteirista. 

Para ler

Formulário p/ pagina de contato (Não remover)