
Como disse no texto anterior, os irmãos Menendez tinham a possibilidade de receberem uma nova sentença. Eles cumpriram 35 anos de prisão, sempre apresentaram bom comportamento e foram muito injustiçados no segundo julgamento do caso, onde não puderam apresentar uma defesa plena, visto que os abusos sofridos pelos dois — que foram os motivadores do crime — não puderam ser apresentados. Eles apelaram para a Justiça para receber uma nova sentença até o ano de 2005. Como não obtiveram sucesso, o caso ficou em um limbo até aproximadamente 2018, quando uma carta escrita por Erik foi encontrada nos pertences de seu primo já falecido, Andy Cano. Na correspondência, o jovem de 18 anos confidencia ao seu parente que ainda estava sofrendo abusos sexuais por parte de seu pai, Jose. Essa carta nunca foi usada durante os dois julgamentos, se caracterizando como uma nova evidência muito importante para a defesa dos irmãos. Por muito tempo, os abusos cometidos por Jose e Kitty não foram levados em consideração com seriedade por parte da promotoria e da opinião pública. No primeiro julgamento, quando os irmãos confidenciaram esses fatos perturbadores de sua família, eles se tornaram motivo de zombaria nos principais programas da televisão estadunidense.
Em 2022, Roy Roselló, ex-integrante do grupo musical Menudo, confidenciou em um documentário que havia sido abusado sexualmente por Jose Menendez na década de 80. Menendez era um dos executivos da gravadora RCA na época. Roy afirmou no documentário Menendez + Menudo: Boys Betrayed (2023) que, em uma visita aos EUA, ele jantou na casa dos Menendez, onde foi drogado. Apesar de ser um adolescente, ele foi obrigado a beber um vinho que continha algum tipo de sonífero. Quando acordou na manhã seguinte, estava em seu hotel e apresentava sinais de abuso sexual. Segundo Roy, ele já era abusado sexualmente pelo produtor da banda, Edgardo Diaz. Foi o empresário quem permitiu o abuso como uma moeda de troca com Jose Menendez. O Menudo estava fazendo muito sucesso nos EUA na época. Outros ex-integrantes da banda corroboram a versão de Roselló, afirmando que Diaz aliciava e abusava sexualmente dos membros da banda adolescente. Ele aparentemente tinha uma rede bem ampla de pedofilia, visto que, quando Diaz foi chamado para compor o júri do The Voice Kids em Porto Rico, René Farrait, ex-membro da banda Menudo, afirmou em uma entrevista que Edgardo não poderia participar de um programa infantil por causa de sua conduta sexual e que, quando se manifestou no documentário de Roy, os outros pedófilos que abusaram dos membros da banda começaram a procura-lo no Instagram.
Ainda em 2022, com a nova evidência em mãos, os advogados dos Menendez protocolaram um pedido de habeas corpus, o qual só começou a ser avaliado depois que o caso voltou à mídia através da polêmica série da Netflix Monsters, criada por Ryan Murphy, e de um movimento que surgiu na rede social TikTok a partir de 2021. Muitos jovens começaram a conhecer o caso e passaram a discutir sobre o primeiro julgamento dos Menendez. Foram eles que começaram a apontar toda a parte problemática do processo. Na época, os promotores do caso, Pamela Bozanich e Lester Kuriyama, chegaram a afirmar que eles não haviam sido abusados pelos pais, pois estes não possuíam as ferramentas necessárias. Ou seja, apenas uma mulher poderia ser abusada por um homem. Lester, inclusive, sugeriu que Erik era gay e, por isso, conseguia descrever detalhadamente os supostos abusos que sofrera.
Em 2024, o então promotor do condado de LA, George Gascón, indicou o ressentenciamento dos irmãos. Depois de algumas prorrogações, a nova audiência ocorreu nos dias 13 e 14 de maio deste ano. Depois de ouvir a defesa e a promotoria, os irmãos receberam uma nova sentença. O juiz entendeu que, depois de 35 anos no regime fechado, os irmãos podem pedir liberdade condicional. Ele estipulou uma nova pena de 50 anos para os dois, substituindo a prisão perpétua sem condicional. O governador do estado da Califórnia, Gavin Newsom, solicitou em fevereiro deste ano uma avaliação do conselho de sentença da Califórnia, questionando se Erik e Lyle oferecem algum risco para a sociedade caso sejam libertados. Esse relatório é importantíssimo para que os dois recebam a clemência do estado. Depois de receber o relatório, o governador Newsom tem 120 dias para se manifestar sobre o caso. Se receberem uma resposta negativa, eles podem recorrer em 2028.
Para finalizar, acho que é importante transcrever aqui o que foi dito pelos irmãos em seu depoimento nessa nova audiência. Eles mostram bastante arrependimento pelo crime, e esse é um fator importantíssimo para que a sua revisão de pena tenha ocorrido. Nós podemos comparar esse crime com o Caso Richthofen. A filha do casal, que foi mandante do crime, não pôde entrar no regime condicional por muito tempo, pois não era aprovada no exame psicológico. Quando questionada sobre as consequências do crime, Suzane sempre dizia que se arrependia muito do que havia feito, pois tinha destruído a própria vida. No caso dos Menendez, eles sempre demonstraram arrependimento. Principalmente Erik. E nesses relatos que foram divulgados pelo jornalista Robert Rand, fica mais claro que os irmãos têm plena consciência de seus atos. E outra coisa que difere Erik e Lyle de Suzane é o fato de que os Menendez foram avaliados por vários psiquiatras, e eles não são considerados psicopatas. Apesar da premeditação do crime, eles eram jovens muito infantilizados, sufocados e abusados pelos pais. Os pequenos delitos que eles cometeram antes do crime podem ser compreendidos como um pedido de ajuda para o mundo exterior, pois eles não eram corajosos o suficiente para enfrentar seu genitor. Jose era um homem muito poderoso.
Depoimento de Joseph Lyle Menendez
Agradeço a oportunidade de fazer esta declaração.
Em 20 de agosto de 1989, matei minha mãe e meu pai. Não dou desculpas nem ofereço justificativas.
Assumo total responsabilidade pelas minhas escolhas e pela pessoa que eu era quando as fiz:
A escolha de confrontar meu pai sobre os abusos.
A escolha de guardar os segredos da família em vez de pedir ajuda.
A escolha de ficar em vez de ir embora.
A escolha de comprar armas e munição.
A escolha de apontar armas para meus pais e atirar neles em sua própria casa.
A escolha de recarregar e voltar para a sala de estar, correr até minha mãe caída no chão e atirar nela novamente.
A escolha de fugir, mentir, me esconder e fazer tudo o que pudesse para escapar desses crimes terríveis.
A escolha de fazer uma farsa do sistema jurídico-criminal ao subornar testemunhas para mentir.
Passei muitos anos enfrentando o que fiz e tentando entender quem eu era e por que fiz essa escolha horrível.
Mais uma vez, não ofereço desculpa nem justificativa. Não culpo meus pais.
Mas hoje entendo que eu era um jovem de 21 anos que acreditava poder consertar o que não tinha conserto. Eu era imaturo, impulsivo, desconfiado, emocionalmente isolado, e vivia uma relação de codependência com meu irmão mais novo, com quem compartilhava um vínculo traumático. Reprimi minhas emoções e minha raiva. Carregava uma vergonha profunda que escondia de todos. Essa vergonha me manteve emocionalmente isolado, e eu não confiava em ninguém, nem em nada.
Sempre confiei no meu pai para resolver os grandes problemas da minha vida. De repente, eu estava sozinho e em desespero. Minha decisão de comprar armas naquela sexta-feira não veio da lógica nem da razão. Eu estava com medo, mas também tomado pela raiva.
Sinto muito por não ter pedido ajuda. Eu deveria ter confiado em alguém: um parente, a polícia ou até o padre Ken, um pároco que já havia sido uma fonte de conforto para mim no passado.
Se eu tivesse buscado ajuda no início da semana, quando a crise começou, não teria comprado uma arma. Se eu tivesse habilidades para lidar com minhas emoções, se tivesse parado para considerar outras opções, se tivesse confiado nos outros para me ajudarem — se eu tivesse feito escolhas diferentes, não teria cometido esses crimes.
Mesmo depois de matar meu pai, sua voz ainda estava na minha cabeça.
Mais do que nunca, senti que devia a ele proteger a imagem da família e manter os segredos. Carregava uma vergonha profunda. Me agarrei à crença de que ninguém acreditaria em mim e no meu irmão sobre os abusos sexuais. Eu não respeitava instituições nem normas sociais. Sem meu pai para resolver essa crise, eu estava à deriva e desesperado. Não conseguia aceitar as consequências das minhas ações. Me sentia responsável pela situação em que estávamos, e agi de forma injustificável. Lamento por isso e por ter colocado outras pessoas nessa posição apenas porque não queria encarar minha própria realidade.
Hoje, 35 anos depois, sinto profunda vergonha da pessoa que fui naquela prisão. Sou grato ao padre Ken Deasy, que trabalhou comigo por quase dois anos para me ajudar a encontrar coragem para falar publicamente sobre os segredos da família. Ele me ensinou a abrir mão das expectativas, da necessidade de controlar os resultados, e me ajudou a começar a libertar o peso da vergonha. Sou grato a ele.
Em 1996, fui confrontado com uma jornada assustadora e aparentemente sem esperança: prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional. Eu sabia que merecia o sofrimento que viria. Também sabia que precisava crescer, curar, amadurecer e mudar. Foi uma luta, especialmente no começo, e peço desculpas pelos erros que cometi. Mas, eventualmente, escolhi viver uma vida de crescimento pessoal, educação e serviço aos outros. Queria fazer parte da solução, não do problema. Fiz isso porque parecia certo para quem eu era e quem eu queria ser. Fiz isso porque deu um propósito ao arrependimento que me consumia. Com o crescimento e o serviço vieram o entendimento e a mudança. Fiz uma promessa desde o início: nunca mais usaria a violência para resolver um problema, nem mesmo para me defender. Sofri agressões físicas. Mas não me arrependo dessa promessa. Sou mais forte por causa dela.
Trabalhei muito para me tornar uma pessoa melhor.
Assumi papéis no governo interno dos presos, aprendendo a ajudar os outros a resolver problemas, e, com isso, comecei a desenvolver maior autoestima e compaixão. Participei de grupos de autoajuda e me envolvi com facilitadores que me ajudaram a entender meus defeitos de caráter.
Aprendi a confiar nos outros, inclusive em figuras de autoridade. Construí relações fortes e saudáveis com funcionários da prisão, terapeutas e colegas detentos. Aprendi a buscar apoio de profissionais, e experimentei o quão transformadora essa confiança pode ser. Aprendi a processar a raiva em vez de enterrá-la.
Aprendi a pedir ajuda quando preciso.
Sou grato pela oportunidade de ser considerado para a reavaliação da sentença e por tudo o que isso significa para meu irmão, minha família e para mim. O impacto das minhas ações violentas sobre minha família, a quem amo profundamente, é incalculável. Eles choraram comigo e expressaram seu sofrimento.
Peço perdão a cada um de vocês, e sou grato pelo amor e pelo perdão que me deram. Causei-lhes choque, luto e perdas indescritíveis. Menti para vocês e os forcei a encarar uma exposição pública humilhante que jamais pediram. E, mesmo assim, vocês estão aqui, mostrando misericórdia, apesar de tudo o que tirei de vocês.
Hoje, tento viver uma vida que, espero, represente algum tipo de reparação pelo mal que causei. Também sou grato pelo apoio de tantas pessoas da comunidade que compartilharam comigo suas histórias dolorosas e enviaram suas orações. Parte da força para passar por esses anos veio desse poço profundo.
Se me for dada a oportunidade de viver um novo capítulo além dos muros da prisão, pretendo continuar trabalhando com a comunidade de sobreviventes de abuso sexual para aumentar a conscientização.
Também pretendo continuar servindo à população encarcerada por meio da construção de comunidades, a fim de transformar a cultura das prisões.
Anseio por poder me reunir com minha família estendida e continuar a jornada de cura que me sustentou durante toda minha prisão.
Agradeço novamente ao tribunal por sua consideração e pela oportunidade de fazer esta declaração.
Depoimento de Erik Gavin Menendez
Quero expressar minha gratidão pela oportunidade de me dirigir ao tribunal e à minha família. É um privilégio imenso poder falar diante do tribunal hoje. Faço isso com plena consciência da gravidade deste processo e com profunda tristeza por todos os membros da minha família, que ainda são profundamente impactados pela tragédia que eu causei.
Há trinta e cinco anos, em 20 de agosto de 1989, cometi um ato atroz de brutalidade contra duas pessoas que tinham todo o direito de viver. Tirei a vida de Mary Louise Menendez e Jose Enrique Menendez, minha mãe e meu pai.
Minhas ações foram criminosas; também foram egoístas, cruéis e covardes. Roubei dos meus pais o direito a uma vida plena. Tirei dos meus parentes o direito de compartilhar essa vida com eles. Roubei dos vizinhos o direito a uma comunidade pacífica e segura. Não há desculpa, nem justificativa para o que fiz — nada pode tornar isso menos errado.
Assumo total responsabilidade pelo meu crime e não culpo mais ninguém.
Fui eu quem procurou meu irmão de 21 anos naquela terça-feira, pedindo ajuda.
Fui eu quem o convenceu de que não havia saída.
Fui eu quem teve vergonha de pedir ajuda à família ou a qualquer outra pessoa.
Fui eu quem não confiou na polícia quando deveria ter confiado.
Em vez disso, comprei armas, munição e invadi a sala onde meus pais assistiam televisão. Disparei todos os cinco tiros contra meus pais. Depois corri até o carro para buscar mais munição. Nem meu irmão nem eu paramos até que nossos pais estivessem mortos. Depois disso, tentei criar um álibi no cinema, descartei as armas e fiz tudo que pude para me livrar do crime. Menti para a polícia sobre o que tinha feito. Menti para minha família.
Sinto muito, de verdade. Esse crime nunca deveria ter acontecido. Meus pais deveriam estar vivos. Eles não estão, e eu sei que a culpa é minha.
Frequentemente me pego refletindo sobre como deve ter sido aquela semana de 20 de agosto para meus parentes, e meu coração se parte ao tentar imaginar. Como foi aquela ligação para eles? Repasso isso repetidamente na minha mente. Tento imaginar o choque e a dor que sentiram no momento em que souberam da morte da filha, da irmã, da tia. Que tormento esmagador devem ter sentido. Só posso imaginar o medo, a dor e o trauma que causei.
Tive que deixar de ser egoísta e imaturo para realmente tentar sentir o que meus pais devem ter passado em 20 de agosto de 1989. Lembro de tentar me colocar no lugar deles, de ver meu crime pelos olhos deles. Imaginei o terror que sentiram ao ver o próprio filho apontando uma arma para eles. Tentei entender o medo, a confusão, a sensação esmagadora de traição. Pensei na minha mãe testemunhando a morte do marido, na dor física e emocional que ela deve ter sentido, impotente para impedir. Imaginei seus últimos momentos, repetidas vezes, de olhos fechados, até que o verdadeiro peso das minhas ações começasse a fazer sentido.
E só então pude finalmente encarar o quão horrível foi o que fiz.
Meu crime não foi apenas criminoso, errado e imoral — foi cruel e perverso; foi mais do que o assassinato de duas pessoas, foi a imposição de um sofrimento inimaginável e horrível a elas e a todos que as amavam. Sou diretamente responsável por tudo isso.
Minhas escolhas naquela noite roubaram dos meus pais suas vidas plenas. Minhas escolhas roubaram o amor e a companhia deles de todos que os amavam.
Minhas escolhas tiraram a alegria das festas de Natal, dos feriados e dos encontros familiares. Em vez de celebração e união, pairava no ar um peso — uma tristeza esmagadora que se transformou em torpor e vazio no coração da minha tia Terry, da minha tia Joan, do meu tio Carlos, da minha tia Marta, do meu tio Brian, do meu tio Milton e de cada sobrinho e sobrinha que os amavam.
Não preciso imaginar essa verdade dolorosa. Minha família compartilhou essa profunda tristeza comigo. Como se não bastasse, minha família teve que suportar um escrutínio público que não pediu nem mereceu, até os dias de hoje.
Depois dos assassinatos, neguei toda responsabilidade.
Menti para os investigadores no local e para os detetives de Beverly Hills que investigavam o assassinato dos meus pais.
Menti para meus parentes enquanto eles ainda estavam de luto, e menti para todos sobre meu envolvimento no crime. Cheguei até a culpar outras pessoas.
Peço desculpas por essas mentiras e por ter falhado com minha responsabilidade para com minha família e minha comunidade. Não há desculpa para meu comportamento.
Minha prisão e os julgamentos apenas ampliaram a tragédia e o luto da minha família. Não encontrei maneiras suficientes para me desculpar. Mas nenhuma desculpa jamais diminuirá o sofrimento deles nem mesmo um pouco. Repetir pedidos de desculpas, percebi, era um ato egoísta. Por mais que eu quisesse me livrar da culpa e da vergonha, não havia como. Eu cometi o crime e agora devo viver com ele.
À medida que amadureci, consegui encarar as decisões devastadoras que tomei aos 18 anos.
O assassinato dos meus pais não é algo que eu possa esconder dentro de mim. Eu vivo com isso todos os dias. Faz parte de mim, sempre presente.
Uma verdade que poucos conhecem, mas que compartilhei com meus parentes, é que eu converso com minha mãe. Não posso fazer as pazes com o que fiz, mas compartilhar minha vida com ela, dividir meus medos e esperanças e pedir sua orientação se tornou um hábito diário. Sinto saudade da minha mãe, mas também sei que não tenho o direito de sentir essa saudade, então converso com ela. E no último ano, comecei a conversar com meu pai.
Durante os últimos 35 anos, me esforcei para entender melhor como me tornei alguém capaz de matar os próprios pais; busquei, egoisticamente, me odiar um pouco menos; busquei aliviar a angústia que me tornava tão autodestrutivo; procurei encontrar um caminho de cura.
Percorri um longo caminho, mas também acredito que esse caminho não tem fim. Nunca haverá cura completa para esse crime. Nem para mim, nem para minha família.
Durante boa parte da minha vida, acreditei que morreria na prisão. O peso de uma sentença de prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional me quebrou. Mergulhei em uma vida no pátio de segurança máxima, onde a violência e a miséria eram rotina, as únicas constantes.
Durante muito tempo, perdi toda a esperança.
Perdi a mim mesmo.
Não fui o marido que deveria ter sido, e me tornei autodestrutivo.
Minha sentença de prisão perpétua sem liberdade condicional era como estar preso dentro de uma prisão ainda mais profunda. Senti-me isolado das oportunidades de crescimento e redenção que outros têm, e acreditei que eu era irrecuperável, indigno.
Talvez esse seja o objetivo da sentença, mas para mim, essa desesperança me devastou. Ela sufocou minha capacidade de curar e de experimentar amor dentro da comunidade carcerária.
A depressão se espalha aqui como fogo, e quando a esperança se vai, a dor ocupa seu lugar. Essa dor paira sobre muitos de nós e torna difícil crescer e se curar.
Em 2013, algo mudou em mim.
Foi um ponto de virada — me deram a oportunidade de servir aos outros. Comecei a cuidar de idosos, pessoas com deficiência e doentes terminais.
Pode parecer pequeno, mas esse ato de serviço mudou tudo para mim. Passei a ser importante para os outros. Eu tinha um propósito. Criei o programa Life Care & Hospice e, por meio desse trabalho, descobri uma nova forma de ver a vida. Passei a focar em viver com propósito.
Comecei a entender o que significa formar conexões reais — mesmo aqui dentro. Ser parte de uma comunidade. Estar presente como marido e pai, mesmo por trás dessas paredes.
Comecei a participar de programas de autoajuda.
Comecei a estudar, e depois passei a liderar e incentivar outros.
Obrigado à minha família por me apoiar e me permitir esta oportunidade hoje.
Sei que esse tem sido um processo doloroso.
Vocês não mereciam o que eu fiz com vocês, mas me inspiram a ser melhor.
Decidi compartilhar esses depoimentos para mostrar que os irmãos têm desenvolvido uma série de projetos dentro da penitenciária onde cumprem sua pena e demonstram, depois de 35 anos, que realmente estão aptos a seguirem suas vidas em liberdade. Não tenho ideia de quanto tempo demorará para termos algumas atualizações sobre o caso, mas espero que, apesar da crueza desse crime, eles tenham espaço para recomeçar. Até porque eles saíram de uma prisão familiar para uma penitenciária de segurança máxima. Creio que eles mereçam uma nova chance.
Esse artigo será atualizado assim que os novos desdobramentos surgirem na mídia.