
Caso Juliana Marins: Algumas considerações sobre os vulcões da Indonésia
Por que o Círculo de Fogo é tão perigoso?
Tambora
Em 1815, o Monte Tambora, localizado na ilha de Sumbawa, se transformou em uma filial do inferno. Sua erupção é considerada a maior do mundo moderno. A violência foi tão grande que o vulcão, que tinha 4.200 metros de altura, perdeu 1.450 metros de altitude. A explosão foi equivalente a 10.000 megatons de TNT. Uma coluna de cinzas, com 50 quilômetros de altura, foi lançada na atmosfera, causando modificações no clima do planeta. Ao todo, o vulcão expeliu 160 km³ de material vulcânico. Por causa disso, em 1816 não houve verão, devido ao esfriamento do planeta causado pela erupção.
Esse único dado já deveria ser suficiente para desaconselhar sua exploração turística. No entanto, as autoridades indonésias consideram a visitação segura, amparadas pela atual calmaria do vulcão. O problema é que a maioria das trilhas que conduzem até a cratera do Tambora demandam entre dois a três dias para serem completadas. Em caso de uma erupção súbita com fluxo piroclástico, dificilmente haveria tempo hábil para que os turistas possam escapar da morte.
A trilha, além de longa, é íngreme, vulnerável à ação de ventos fortes e não conta com estrutura adequada de resgate em caso de emergência. Soma-se a isso o fato de que parte do deslocamento pela montanha ocorre durante a noite, o que exige atenção redobrada e muita orientação. Aventurar-se por um vulcão de grande altitude, com caminhos arenosos e cheios de pedregulhos soltos, ainda mais com uma visibilidade reduzida, é uma combinação potencialmente fatal. E essa possibilidade, por si só, deveria inspirar mais cautela. Se uma pessoa pode morrer nessas circunstâncias, isso é motivo suficiente para que trilhas nesse local não aconteçam.
Krakatoa
Krakatoa é uma ilha situada no Estreito de Sunda, entre as ilhas de Java e Sumatra. Ao longo dos séculos, diversas erupções de um vulcão submarino formaram uma ilha no meio do oceano, com aproximadamente 10 quilômetros de extensão. Sobre ela, erguiam-se três cones vulcânicos: Perboewatan (1.005 m), Rakata (813 m) e Danan (450 m). Entre 1680 e 1681, o Perboewatan permaneceu ativo. Em 1880, geólogos perceberam que a montanha teve uma certa atividade posterior por meio da análise do solo. Mas, como nenhuma intercorrência preocupante ocorreu durante muitos anos, a montanha foi considerada extinta. Os cientistas, no entanto, estavam redondamente enganados.
Em maio de 1883, uma série de terremotos foi sentida na região. Eram tão intensos que chegaram à então capital das Índias Orientais Holandesas, Batavia (atual Jacarta), localizada a 150 quilômetros de distância. Em agosto de 1883, o vulcão Perboewatan teve uma primeira explosão que lançou cinzas a grande altitude. No dia 26 de agosto, o monte Perboewatan entrou novamente em erupção, agora acompanhado pelos picos Rakata e Danan. No dia seguinte, 27 de agosto, ocorreram quatro explosões gigantescas. As primeiras foram tão altas que puderam ser ouvidas no deserto australiano. Mas o pior ainda estava por vir.
A terceira explosão foi descrita como “o dedo de Deus na Terra” e chegou a ser ouvida até mesmo nas Ilhas Maurício, país localizado na África, do outro lado do Oceano Índico. É considerado até hoje o som mais alto já registrado no planeta Terra. Muitos marinheiros que navegavam pela região tiveram os tímpanos dos ouvidos rompidos instantaneamente. Estima-se que a potência da explosão tenha sido de 200 megatoneladas de TNT. Segundo um documentário do History Channel, isso equivaleria a treze mil vezes a potência das bombas nucleares lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki.
Foi um caos total. As três montanhas lançaram pedras a uma altura de 27 quilômetros. A sequência de erupções liberou entre 20 e 30 km³ de material vulcânico na atmosfera, alterando a temperatura do planeta por alguns anos. Cinzas vulcânicas cobriram extensas áreas e eram capazes de causar sufocamento. Após a quarta explosão, a ilha de Krakatoa foi completamente destruída e submergiu no oceano. O contato da lava com a água fria do oceano provocou uma série de tsunamis que devastaram as costas das ilhas de Java e Sumatra. Cerca de 40 mil pessoas morreram nesse episódio.
O céu mudou tão drasticamente devido à quantidade de cinza na atmosfera que pores do sol exuberantes foram registrados em várias partes do mundo. Diz-se que esses céus inspiraram um dos quadros mais famosos da história da arte: O Grito, do pintor norueguês Edvard Munch. O clima do planeta só voltou ao normal em 1888, cinco anos após a explosão devastadora que destruiu a ilha de Krakatoa.
A calmaria na região durou por algum tempo, até que, em 1927, novas explosões começaram a ocorrer no mesmo local da antiga ilha. O vulcão submarino que havia dado origem aos três picos originais continuava ativo. As erupções subsequentes formaram uma nova montanha, batizada pelos cientistas de Anak Krakatau, que, em bahasa indonésio, significa “A Filha de Krakatoa”.
Segundo especialistas, Anak Krakatau pode ser ainda mais poderosa que os antigos vulcões, pois as três caldeiras das montanhas destruídas se fundiram em uma só. Ela tem cerca de 50 quilômetros de extensão subterrânea. Assim como suas antecessoras, Anak Krakatau possui uma característica especialmente perigosa: sua lava é espessa e forma uma espécie de "tampa" sobre a cratera, conhecida como domo de lava. Essa estrutura, em forma de cúpula, surge quando a lava viscosa extravasa lentamente e não consegue escoar com facilidade. Ao se resfriar, o domo sela a caldeira, impedindo a liberação dos gases internos. Com o acúmulo de pressão, uma explosão extremamente violenta pode ocorrer.
Ao longo dos anos, Anak Krakatau mostrou-se extremamente ativa e cresceu bastante com as sucessivas erupções. É imprevisível e letal. A montanha chegou a atingir 400 metros de altura, mas uma de suas erupções, em 2018, destruiu parte significativa da estrutura, provocando um tsunami que causou a morte de aproximadamente 400 pessoas no Estreito de Sunda.
Apesar de sua agressividade, a Indonésia ainda explora turisticamente a região. Em 1993, um turista estadunidense morreu ao ser atingido por detritos lançados por uma erupção enquanto navegava nas proximidades do vulcão, junto a um grupo de visitantes. Outras cinco pessoas ficaram feridas na ocasião. E o mais impressionante é que, mesmo com tamanha instabilidade, turistas podiam fazer trilhas até o cume da montanha até o ano de 2018. Essa atividade só foi proibida após a erupção que causou um tsunami. Ou seja, tudo é explorado até o limite. Até que uma grande tragédia aconteça. Hoje em dia, excursões marítimas continuam ocorrendo na região, embora o risco de novas erupções súbitas permaneça elevado. Como a montanha segue em crescimento, especialistas temem que o flanco de Anak Krakatau colapse novamente no mar, provocando outro tsunami de grandes proporções.
Monte Samalas (Rinjani)
O Rinjani ganhou atenção recentemente por conta do trágico episódio envolvendo a publicitária brasileira Juliana Marins, mas ela não foi a única vítima da montanha. Entre os anos de 2020 e 2024, foram registrados mais de 180 acidentes, incluindo óbitos. As trilhas são perigosas, íngremes, longas e muitas vezes percorridas durante a madrugada. Esses riscos, no entanto, nem sempre são devidamente esclarecidos aos visitantes. Muitas agências vendem pacotes de forma informal, nas ruas do vilarejo, sem oferecer estrutura ou orientação adequada. Assim, muitos viajantes acreditam estar diante de uma trilha acessível, mas acabam surpreendidos por um percurso extremamente extenuante.
A caminhada é muito difícil. Após cerca de oito horas de subida em terreno acidentado, os trilheiros ainda enfrentam trechos com solo fofo, pedras soltas e difícil locomoção. A temperatura também muda bruscamente conforme se avança em direção ao cume, e o ambiente, por causa da altitude, é constantemente envolto por névoa, chuva e ventos fortes. Trata-se de um ecossistema desafiador até mesmo para montanhistas experientes.
A brusca mudança de altitude também pode provocar alterações corporais conhecidas como “mal da montanha”. Os principais sintomas são dor de cabeça, náusea, vômito, fadiga, perda de apetite e dificuldade para dormir. Em casos mais graves, pode ocorrer falta de ar, confusão mental e até edema pulmonar ou cerebral. Alguns especialistas acreditam que esse quadro pode ter contribuído para a queda de Juliana Marins. Ela caiu durante a madrugada, enquanto atravessava um trecho extremamente acidentado da trilha. Possivelmente desorientada pela escuridão, pelo cansaço físico e pela alta miopia, acabou despencando de uma altura de 300 metros.
A região também é vulnerável a eventos sísmicos. Em 2018, um terremoto de magnitude 6,4 atingiu a ilha, fazendo desaparecer partes da trilha e deixando mais de 300 pessoas feridas e isoladas no topo do Rinjani. Cerca de 689 turistas estavam na montanha naquele momento; duas pessoas morreram. Em 1994, 30 moradores faleceram enquanto buscavam água nas cercanias do vulcão. Eles foram atingidos por um lahar, fluxo de lama gerado por atividade vulcânica do cone Barujari.
Outros episódios trágicos incluem a morte de estudantes indonésios em 2007 por hipotermia, após escalarem a montanha quando o parque estava fechado. Em 2016, um turista faleceu em decorrência de um ataque de asma causado pelo esforço físico. No mesmo ano, duas turistas também morreram: uma indonésia, afogada no lago da cratera; e uma malaia, que caiu após ignorar uma placa de alerta. Em 2024, quatro pessoas morreram ao cair em penhascos. Em 2025, além de Juliana, um montanhista da Malásia também perdeu a vida em circunstâncias semelhantes.
Juliana chegou a ser encontrada com vida após a queda, mas o resgate foi comprometido pela falta de estrutura no parque. A equipe local não dispunha de cordas longas o suficiente para alcançá-la. A filial da Defesa Civil mais próxima está a duas horas do parque, e só foi acionada quando o socorro local já havia se mostrado ineficiente. Informações mais recentes indicam que Juliana sobreviveu até o dia seguinte. Em um ato desesperado, ela teria tirado os tênis para tentar escalar de volta, mas acabou escorregando mais duas vezes. A última queda foi fatal. Ela poderia ter sobrevivido caso o resgate chegasse naquele mesmo dia.
Desde 2020, dez mortes foram registradas no Rinjani, mas esse número pode estar subnotificado, pois muitos incidentes ocorrem em trilhas não monitoradas, sem presença de guias e sem documentação oficial. Muitas pessoas acabam se arriscando sozinhas na montanha. Os relatórios oficiais incluem apenas os casos registrados no sistema do parque.
Todos esses fatores reforçam que Juliana não pode ser responsabilizada por sua própria morte. Acidentes são frequentes na região, especialmente por conta da falta de estrutura adequada. Embora o número de mortes possa parecer pequeno diante da quantidade de turistas que já completaram a trilha, o risco é real e elevado. Trata-se de um percurso perigoso, que não deveria sequer ser explorado nas condições atuais, seja pela instabilidade do terreno, seja pelo fato de se tratar de uma área vulcânica sujeita a erupções plinianas. É uma verdadeira loteria. Não se pode prever quando o vulcão entrará em erupção, qual será a direção de um fluxo piroclástico ou quem escorregará no solo pedregoso e instável.
O pai de Juliana sugeriu a instalação de guarda-corpos nos trechos mais perigosos, mas isso seria ineficaz diante de um novo terremoto de grandes proporções. O próprio governo indonésio já havia demonstrado anteriormente preocupação com os incidentes na montanha, reconhecendo a necessidade de rever os protocolos de segurança e resgate. É o que a família de Juliana também espera: que sua morte sirva, ao menos, para evitar novas tragédias causadas pela negligência de muitas operadoras que ainda exploram a região de forma precária. A empresa responsável pela excursão de Juliana, inclusive, foi banida do parque, mas continuava operando normalmente. E isso só ocorre pela falta de fiscalização. Segundo relatos locais, Juliana teria sido deixada para trás pelo guia em plena escuridão. Se isso se confirmar, trata-se de uma grave negligência, já que a jovem se encontrava em situação vulnerável. Esse aspecto precisa ser investigado com profundidade pela família .Além, é claro, do fato de que ela não pôde ser resgatada por causa da falta de estrutura do parque. Se uma empresa oferece um passeio com esse tipo de risco, eles são responsáveis por tudo aquilo que acontece na montanha. E eles devem ter aptidão para possíveis resgates. Mas não é o que acontece.
Outros vulcões explorados pela Indonésia
Merapi
Dentro desse tema, o que mais me assusta na Indonésia é a exploração turística do Monte Merapi. Particularmente, ele é um dos meus vulcões favoritos. Gosto tanto que até virou tema de uma playlist no meu Spotify. Mas por que ele é tão interessante?
O vulcão Merapi é uma das montanhas mais ativas e imprevisíveis do planeta, com erupções frequentes que podem ocorrer sem nenhum aviso, liberando fluxos piroclásticos mortais, gases tóxicos e lava. O terreno é instável, escorregadio e cheio de riscos naturais, como deslizamentos e emissão de gases sulfurosos. Além disso, a região é propensa a lahars, as correntes de lama vulcânica que se formam com a chuva ou com o derretimento do gelo eterno no cume, como ocorreu em 1985 na Colômbia, quando essas avalanches partiram do cume do vulcão Nevado del Ruiz e sepultaram a cidade de Armero.
Por causa da violência de suas erupções, o centro de observação do Merapi possui um bunker reforçado para abrigar os vulcanólogos em caso de fluxo piroclástico ou avalanches de lama. Essa medida não é exagerada: em 2010, uma erupção do Merapi vitimou 353 pessoas. Os fluxos piroclásticos são uma das formas mais letais de atividade vulcânica, combinando gases tóxicos, cinzas e fragmentos de rocha incandescentes que descem as encostas a velocidades de até 700 km/h, com temperaturas que podem ultrapassar 1.000 °C. Essa mistura destrói, incinera e enterra tudo o que encontra pelo caminho em segundos, causando morte instantânea por queimaduras e asfixia. Mesmo assim, muitos se arriscam a subir a montanha ilegalmente.
Só para dar um contexto histórico de como esse vulcão é mortífero:
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1930: uma erupção matou 1.300 pessoas e varreu vilarejos inteiros.
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1994: um fluxo piroclástico inesperado matou 60 pessoas, incluindo turistas.
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2006: três pessoas morreram devido à inalação de fumaça tóxica.
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2009: um grupo de estudantes subiu a montanha e sofreu ferimentos após uma erupção.
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2010: a montanha entrou em erupção e causou a evacuação imediata de 350.000 pessoas. Houve 353 mortes confirmadas.
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2015: um jovem morreu ao cair na cratera tentando tirar uma selfie.
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2018: turistas fizeram uma caminhada ilegal e sofreram queimaduras graves por causa de uma nuvem de fumaça tóxica.
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2022: um indonésio subiu a montanha sem guia durante a noite e morreu ao cair de grande altitude.
Mesmo com essas fatalidades e com proibições, operadoras de turismo continuam levando pessoas para escalar essa bomba-relógio. Existem restrições severas, os guias não podem conduzir turistas até o cume, mas esse tipo de passeio ainda é oferecido de forma ilegal.
Outra peculiaridade sobre o Merapi é o turismo pós-desastre que se desenvolveu desde a grande erupção de 2010. Guias levam turistas de jipe para conhecer as regiões devastadas. Isso também ocorre no vulcão Sinabung. Para você ter uma ideia, alguns pacotes incluem relatos de sobreviventes e fotos de corpos carbonizados, o que, pessoalmente, considero extremamente bizarro. E, por se tratarem de dois vulcões altamente imprevisíveis, o turismo realizado nas áreas devastadas é perigoso. Essas montanhas podem se reativar subitamente. Fluxos piroclásticos podem atingir esses locais com facilidade e até mesmo sepultar áreas consideradas seguras com extrema rapidez.
Monte Sinabung:
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2016: cerca de 16 pessoas morreram durante uma erupção inesperada por causa do fluxo piroclástico.
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2020: um grupo de turistas foi hospitalizado por inalar fumaça expelida pelo vulcão.
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2017: mesmo com a proibição absoluta de escalada, um turista alemão desobedeceu as regras, subiu a montanha e morreu.
Se você ainda tem dúvidas sobre o quanto essas montanhas podem ser perigosas em qualquer cenário, recomendo o documentário Into the Inferno, do diretor Werner Herzog. Ele filmou uma erupção inesperada no Sinabung e, ainda naquela semana, um canal de tevê indonésio exibiu uma reportagem mostrando que um novo fluxo piroclástico havia atingido exatamente a região onde a equipe havia posicionado a câmera para captar imagens. Isso prova que áreas consideradas “seguras” hoje podem ser fatais amanhã. Por causa disso, a zona de perigo do Sinabung vem se expandindo desde 2021. É preciso deixar claro que os guias que levam pessoas de carro para essas zonas perigosas não podem oferecer nenhuma garantia de segurança. Um cataclisma vulcânico de grandes proporções pode ocorrer a qualquer momento.
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Semeru
Localizado na Ilha de Java, o Semeru também é um destino para aventureiros na Indonésia. No entanto, ele é extremamente perigoso. Está em atividade contínua desde 1967, emitindo fluxos piroclásticos e avalanches de lama e pedras. Com uma altitude de 3.676 m, devido à sua natureza violenta, os turistas são orientados a escalá-lo apenas até o posto Kalimati, localizado a 2.800 metros de altitude. Ainda assim, há quem ignore as restrições. Em 2016, um turista morreu ao alcançar a região de Arcopodo, situada a 2.900 metros de altitude, após ser atingido por rochas. No mesmo ano, um turista suíço subiu a montanha de forma ilegal e acabou desaparecendo. Até hoje, seu corpo não foi encontrado. Em 2021, o Semeru registrou sua última grande explosão, que vitimou cerca de 69 pessoas nas proximidades da montanha. As fatalidades foram causadas por intensas avalanches e pelo fluxo piroclástico. Dito isso, ninguém deveria escalar o Semeru. A sensação de segurança que a popularidade da montanha transmite é enganosa, assim como ocorre com outras montanhas muito procuradas do país.
Bromo
Agung

Monte Ijen

O Monte Ijen (Kawah Ijen) é um complexo vulcânico no leste de Java e é muito famoso por causa de seu lago ácido extremamente corrosivo e pelo fenômeno das chamas azuis. Apesar da paisagem idílica, muito procurada por ser “instagramável”, visitar o local envolve riscos sérios à saúde. O lago tem um pH de cerca de 0,3, o que é comparável ao ácido de bateria, mesmo quando diluído. Ou seja, a água pode queimar a pele instantaneamente. As chamas azuis, muito populares entre os visitantes, surgem pela combustão de gases sulfurosos em temperaturas que chegam a 600 °C, liberando substâncias tóxicas como dióxido de enxofre (SO₂) e sulfeto de hidrogênio (H₂S), que causam irritação severa nos olhos, garganta e pulmões, podendo levar à desorientação ou desmaios.
Além da questão química, a trilha até a cratera exige descer uma encosta íngreme de pedras soltas, em um terreno extremamente escorregadio. E a cereja do bolo desse caos todo é que muitos visitantes passam mal durante esse trajeto, apresentando dificuldades para respirar, tontura, ânsia de vômito e algumas pessoas chegam até a desmaiar. E por que isso ocorre? O principal motivo é que muitos turistas sobem o vulcão sem máscaras apropriadas por falta de orientação. Em 2015, um turista suíço morreu após uma crise respiratória, provavelmente desencadeada pelos gases tóxicos do local. Vale lembrar ainda que, ao longo dos anos, mais de 70 mineiros faleceram devido à toxicidade do local. Além desse problema, em abril de 2024, uma turista chinesa desobedeceu o seu guia e se aproximou demais da cratera para tirar uma selfie. Ela tropeçou na própria roupa e despencou de uma altura de aproximadamente 75 metros.
No caso de Juliana, a jovem caiu em um desfiladeiro por volta das quatro horas da manhã. O guia só a encontrou duas horas depois, um tempo precioso que poderia ter feito a diferença para a sua sobrevivência. Pensando nisso, é extremamente problemático perceber que o turismo segue ocorrendo em uma região onde quedas são tão comuns e é quase impossível garantir um resgate rápido, pois a brigada do parque está a uma distância de oito horas de caminhada. O que acontece se alguém precisar de um resgate imediato? Provavelmente, o desfecho será semelhante ao que ocorreu com Juliana. Ela foi deixada para morrer. E honestamente, os acidentes no parque ocorrem com tanta frequência que parecem ser naturalizados. As pessoas caem da trilha e os guias seguem levando turistas pelo mesmo caminho. Enquanto Juliana estava naquele desfiladeiro, as atividades seguiram acontecendo no Rinjani. É uma irresponsabilidade que se perpetua diariamente.
Lamento profundamente o que aconteceu com a Juliana e com tantas outras vítimas. É fundamental que esse caso continue ganhando visibilidade internacional, porque as mortes desses turistas precisam servir como um alerta sobre os perigos reais do turismo vulcânico na Indonésia. Não é aceitável que tantos visitantes tenham perdido a vida e, mesmo assim, nada tenha sido feito para reforçar a segurança. A negligência é evidente: continuam levando pessoas para áreas instáveis, como se esses óbitos não significassem nada. Onde existe um risco real e constante de morte, não pode haver exploração turística sob o pretexto de aventura.