Livro: Medicina dos Horrores (Lindsey Fitzharris)








Eu sempre gostei de ler sobre assuntos controversos e, navegando pela internet, deparei-me com um livro muito interessante, chamado The Butchering Art. Escrito por Lindsey Fitzharris, a publicação é uma viagem pelo aterrorizante mundo das cirurgias médicas do começo do século XIX. E como a obra acaba de ganhar uma versão brasuca, chamada Medicina dos Horrores, lançada pela Intrínseca, resolvi falar um pouco sobre ele por aqui. 

No passado, as operações eram realizadas somente como um último recurso, pois costumavam ser muito letais. Eram praticadas em ambientes sem nenhuma assepsia, as mesas não eram higienizadas entre as cirurgias — os médicos sequer lavavam as mãos depois de operar — e, como anestesia era algo inexistente, os profissionais precisavam fazer os procedimentos muito rapidamente. Para piorar o quadro, tudo costumava acontecer em auditórios e essas demonstrações atraiam um público significativo. Imagina só a quantidade de bactérias no ar! Os teatros de operações eram espetáculos sanguinolentos muito populares. Muita gente gostava de ver os médicos em ação, principalmente Robert Liston, que era um dos profissionais mais famosos do período. Ele era um verdadeiro ninja do bisturi, ou melhor, da faca. Ele conseguia fazer amputações em segundos. Mas essa rapidez toda nem sempre era algo benéfico. Certa vez, Liston, na ânsia de terminar rápido o procedimento, golpeou seu paciente e acabou cortando os dedos de seu assistente. Não o bastante, a sua faca ainda acertou um dos espectadores na plateia. O caso teve um fim trágico: o funcionário do médico e o operado acabaram falecendo. Acidentes e óbitos eram muito comuns, pois tudo era muito perigoso. Os que conseguiam sobreviver aos atos cirúrgicos pouco ortodoxos, quase sempre faleciam no pós-operatório. Havia pouco conhecimento teórico e as pesquisas sobre algumas doenças eram escassas, tanto que muitos médicos, por acreditarem que a presença de pus nas cicatrizes cirúrgicas era um indicativo de boa cicatrização, ignoravam esse fator e os pacientes acabavam morrendo de infecção generalizada.

Como você pode ver, o livro aborda temas insólitos, mas Lindsey lida de forma descontraída com esses assuntos, e a leitura é muito agradável. A historiadora consegue mostrar a evolução dos processos cirúrgicos, toda a transição técnica do que inicialmente parecia ser um ato de tortura para algo mais científico. É uma narrativa muito informativa e que aguça a curiosidade do leitor. E é muito bacana conhecer detalhes sobre essas descobertas tão importantes, como o surgimento dos anestésicos, a importância de ambientes esterilizados nos tratamentos médicos, coisas que são  banais em nosso cotidiano, mas que foram fundamentais para mudar os rumos da medicina moderna. E, principalmente, a publicação é importantíssima, pois exalta a história do médico Joseph Lister, que é o responsável por tudo isso. Ele estudou com afinco as infecções mais comuns que ocorriam nos processos pós-operatórios e desenvolveu soluções para o controle dessas mazelas que causavam tantas vítimas. Se nos dias atuais as infecções hospitalares são um problema sério, imagine como era a situação na época de atuação de Lister? Seu trabalho foi revolucionário.



A Lindsey Fitzharris realmente ama o assunto e depois de ler esse livro, tenha certeza que você também vai se apaixonar por esse universo. E se você quiser se aprofundar ainda mais sobre o assunto, não deixe de conferir o canal da autora no YouTube, chamado Under the Knife.


Livro: Medicina dos Horrores - A história de Joseph Lister, o homem que revolucionou o apavorante mundo das cirurgias do século XIX.
Autora: Lindsey Fitzharris
Editora: Intrínseca





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