Os Mortos Não Morrem: Quando Jarmusch encontra Romero



Como diria Sturgill Simpson, the dead don't die! Principalmente quando o assunto é cinema. Desde a popularização do subgênero de zumbis, em decorrência dos filmes do mestre George Romero, nós tivemos a oportunidade de ver todo o tipo de longa-metragem sobre esses seres que retornam da sepultura.
E, nos últimos anos, os diretores parecem ter optado por narrativas que privilegiam mais as cenas de ação do que propriamente o terror. Os Mortos Não Morrem, nova incursão de Jim Jarmusch no universo do horror, por sua vez, vai em sentido oposto e oferece uma narrativa tão lenta quanto os passos de um morto-vivo.


O filme mostra a cidade de Centerville, um lugarzinho no meio do nada, extremamente pacato, que começa a ser invadido por pessoas que já morreram. Eles estão sedentos por carne humana, café, opiáceos, e pela possibilidade de voltar a fazer compras. Os cidadãos do lugar, com a ajuda de um nerd local, até descobrem como exterminar a horda de zumbis, mas como essas pessoas são tão letárgicas quanto os mortos, escapar dessa ameaça parece ser uma tarefa impossível.

Os Mortos não Morrem não é o melhor filme do Jarmusch, mas o cineasta oferece uma série de reflexões importantes. Ele segue a escola de Romero de crítica social e explora o impacto da administração Trump na sociedade estadunidense, abordando o avanço do nacionalismo, racismo, xenofobia, imigração, a selvageria do consumo, e até mesmo a epidemia de uso de drogas opioides legais e ilegais, um problema de saúde pública que tem devastado os EUA. Além disso, o cineasta formula um fim do mundo ligado aos problemas climáticos, uma bandeira que tem sido ignorada pelo atual presidente.


A película é a segunda investida de Jarmusch no universo do horror. A primeira aventura, Amores Eternos, aconteceu em 2013. Quando a película estava sendo gravada, a atriz Tilda Swinton, protagonista do longa, sugeriu ao diretor que eles deveriam fazer uma película de zumbis. A ideia se materializou seis anos depois, com a presença da britânica e de um elenco repleto de amigos do diretor (como Bill Murray, que está incrível como um policial apático). Nesse flerte com o cinema de Romero, Jarmusch constrói uma grande alegoria sobre a “zumbificação humana”. De como as pessoas estão escravizadas pelo consumo e pela tecnologia, e parecem, literalmente, com mortos-vivos. O final desse roteiro não poderia ser diferente: como lutar contra um zumbi quando você sobrevive apenas por conveniência? A morte eminente parece ser o único momento excitante que essas pessoas terão em suas vidas.



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