
Horror Guatemalteco – Um panorama sobre o cinema de terror feito na Guatemala
Após alguns anos de adormecimento, o gênero reaparece em solo guatemalteco através de uma série de coproduções entre Guatemala e México, compiladas pelo blog The Bloody Pit of Horror. Os filmes sobre as múmias foram produzidos pela Compañía Agrasánchez, a qual decidiu filmar os longas fora do México por causa das políticas mexicanas de incentivo ao cinema. Como tinham dificuldade para conseguir dinheiro do Banco Nacional Cinematográfico, muitos produtores buscaram locações em outros países da América Central, como a Guatemala.
A primeira produção mexicana filmada em solo guatemalteca foi El robo de las momias de Guanajuato (1972). Dirigido por Tito Novaro, o filme conta a história de um cientista que traz de volta à vida as múmias de Guanajuato. Para conter a ameaça, quatro lutadores mexicanos são recrutados. No ano seguinte, é lançado o longa El castillo de las momias de Guanajuato, também dirigido por Novaro. A trama é semelhante: três lutadores mexicanos precisam enfrentar múmias reanimadas.
Em 1974, estreia Leyendas Macabras de la Colonia, dirigido por Arturo Martínez e estrelado pelo lutador mexicano Tinieblas. Na trama, ele compra uma pintura assombrada de uma mulher morta. Ao convidar alguns lutadores para uma festa, o grupo é transportado, à meia-noite, para o período colonial.
No mesmo ano, chega aos cinemas El Triunfo de los Campeones Justicieros, no qual o lutador Mano Negra envia um grupo de anões extraterrestres para sequestrar um cientista.
Ainda em 1974, Alfredo B. Cravenna dirige La Mujer del Diablo, uma coprodução em que um pesquisador de santería decide morar em uma pequena cidade da Guatemala. Ali, apaixona-se por uma jovem que se rebela contra as regras católicas que regem a comunidade.
Em 1975, Arturo Martínez lança Las Momias de San Ángel. Um casal recém-casado se muda para uma casa no bairro de San Ángel, mas descobre que o local é habitado por múmias amaldiçoadas. Cabe ao lutador mexicano Mil Máscaras defendê-los da ameaça.
Dois anos depois, Rafael Lanuza apresenta o capítulo final da franquia das múmias guatemaltecas. La mansión de las 7 momias (1977) mostra um lutador enfrentando o grupo de múmias para salvar uma donzela amaldiçoada.
Em 1980, surge Pesadilla Mortal, segunda incursão de Alfredo B. Cravenna na Guatemala. O longa, também uma coprodução com o México, conta a história de um homem que busca vingança após o assassinato da esposa.
Depois desse ciclo de coproduções, o gênero permaneceu adormecido na Guatemala até 2011, quando Ray Figueroa lança Toque de Queda. O filme apresenta uma proposta interessante: a violência endêmica no país transforma-se em uma epidemia, e um grupo de pessoas precisa se armar para sobreviver contra aqueles que estão “infectados pela ira”.
No ano seguinte, Figueroa colabora no roteiro de Exorcismo Documentado (2012), dirigido por Rodrigo Estrada Alday. A trama acompanha uma jovem de 16 anos possuída por um espírito maligno que precisa ser exorcizada. O filme mistura referências ao caso real da alemã Anneliese Michel e a registros da Diocese da Guatemala. Para intensificar a atmosfera, a equipe escolheu como locação a chamada “casa mais mal-assombrada do país”, em que diversos relatos de atividade paranormal já haviam sido registrados.
Em 2017, Maynor Mérida dirige o média-metragem Pánico en el Mirador. No mesmo ano, Romeo López Aldana lança o curta Maura.
Em 2019, o horror guatemalteco ganha projeção internacional. O premiado curta Lo que Ocultan las Tinieblas, de Romeo López Aldana, recebe diversos prêmios em festivais. A história acompanha um casal que sobrevive a uma ameaça quase apocalíptica, vivendo em harmonia até a chegada de um estranho. Ainda em 2019, chega aos cinemas La Llorona, de Jayro Bustamante, que revisita a famosa lenda da Chorona para criticar a ditadura militar guatemalteca e o genocídio indígena praticado pelos militares. O filme foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Internacional.
Em 2021, López Aldana lança o curta Asfixia, que aborda a pandemia de COVID-19. A protagonista Sofia (Marisa Toriello) entra em quarentena após um caso confirmado de contaminação em seu trabalho e mergulha em paranoia.
Em 2022, Mako Graves apresenta o curta Solo Somos Carne, sobre dois jovens skatistas que precisam enfrentar um psicopata.
O jovem diretor Santiago Cano também contribui com três curtas de horror: A Stranger Familiar (2022), In the Steamboat Williee (2023) e La Visita (2023).
Em 2024, Jayro Bustamante retorna ao gênero com Rita, a história de uma menina de treze anos violentada pelo próprio pai e levada a um abrigo estatal. Lá, junto com outros menores, ela planeja fugir, mas a tentativa desencadeia um choque de violência.
Em setembro de 2025, estreou nos cinema guatemaltecos Terror Eterno, do mesmo universo de Exorcismo Documentado. Dirigido novamente por Rodrigo Estrada Alday, o longa é baseado em arquivos do Arcebispado da Guatemala e acompanha a possessão de uma jovem pelo demônio Maximón. Embora tenha sido filmado em apenas um mês, sua produção levou cinco anos até a estreia.
O cinema de horror guatemalteco vem se desenvolvendo de forma progressiva ao longo das décadas. Ainda que de forma tímida, a produção local atualiza e reinventa tradições locais, ao mesmo tempo em que dialoga com convenções consagradas do gênero. Trata-se de um capítulo do horror latino-americano que vem ganhando projeção internacional.