Final Chica - Cinema de Terror Uruguaio





Sou fã de terror desde a infância. Minha irmã mais velha sempre foi uma fã incondicional do gênero e, como uma criança pouco supervisionada dos anos oitenta, costumava acompanha-la nas sessões vespertinas das emissoras brasileiras. Sempre consumi muitos longa-metragens vindos dos EUA, pois sou do interior do Rio Grande do Sul e a oferta de filmes da televisão na época — e nas locadoras, nos anos 80 e 90, era quase que predominantemente estadunidense. Só fui ter acesso a outros tipos de cinema de terror na década de 2000, quando filmes europeus, australianos, asiáticos, e latinos começaram a ser comercializados pelo mercado mais mainstream, justamente por causa da necessidade de mudanças narrativas no cinema hollywoodiano de horror, o qual passava por uma espécie de esgotamento. Vi também algumas coisas em alguns festivais. Mas eu sinto que só fui ter um acesso mais efetivo aos filmes latinos, graças aos serviços de streaming, como Netflix e Amazon Prime.

Luciferina (2018)

Ano passado, depois de assistir ao filme argentino Luciferina (2018), dirigido por Gonzalo Calzada, comecei a me dar conta desse abismo que existe entre o Brasil e o resto da América Latina, principalmente quando pensamos na cobertura cinematográfica do cinema de terror. Nós sabemos sobre quase todos os filmes que são produzidos pelos estúdios dos Estados Unidos e, muitas vezes, desconhecemos totalmente a produção que está acontecendo em nossos países vizinhos. Então resolvi desenvolver um estudo pessoal sobre o cinema de horror que estava sendo produzido na América Latina, de forma despretensiosa, apenas conversando com algumas pessoas, para poder conhecer um pouco o que estava rolando por aqui. Eu tinha muita curiosidade, queria saber se existia uma indústria de cinema de terror no Paraguai, no Uruguai. Mas o que era para ser algo breve, transformou-se em algo maravilhoso, pois eu pude adentrar nesse universo totalmente desconhecido e eu fiquei extremamente fascinada pelas informações que eu encontrei. E, a partir disso, resolvi transformar a minha experiência em um projeto para o meu blog: o Final Chica. Dividi esse estudo em duas partes: entrevistas (com cineastas, professores, jornalistas), e redigi pequenos artigos sobre pontos específicos do cinema de terror de cada país. Alguns já foram publicados. Depois de um pouco de procrastinação da minha parte, vou publicar o restante do projeto. O capítulo de hoje é dedicado ao cinema de terror uruguaio.

O vampiro uruguaio Crowley

O  projeto Final Chica nasceu no Uruguai. A primeira pessoa que conversei sobre o projeto foi o jornalista e programador do Montevideo Fantástico, Alejandro Yamgotchian. Ele me apresentou então o trabalho de alguns cineastas que estão desenvolvendo projetos independentes em terras uruguaias, como o Marcelo Fabani e Miguel Torena. E, nessas conversas, eu conheci o pai do cinema uruguaio de terror. Trata-se do diretor e produtor Ricardo Islas. O cineasta está radicado nos Estados Unidos atualmente e começou a fazer cinema de terror aos 16 anos na televisão uruguaia. Mas não pense você que era em uma emissora de Montevidéu. Isso rolou na Colonia del Sacramento, uma cidade do interior do país. Seu primeiro filme, Posesión, foi lançado em 1986. E ele fez várias outras produções de terror para esse canal, como Crowley, que é a história do primeiro vampiro uruguaio. Islas fez filmes no Uruguai até 1995. Atualmente ele concentra sua produção nos EUA, onde também é produtor de tevê. Mas o que eu acho mais fascinante nessa história é como os uruguaios se apropriaram da tradição do telefilme, que era uma coisa muito “gringa". E que filmes de terror foram feitos em um canal de uma cidadezinha com menos de 30.000 habitantes. É algo muito interessante e que eu não vejo acontecer no Brasil. E tão pouco teria ocorrido nos anos 80.

Dios Local (2014)
Em resumo, o desenho que faço do cinema de terror uruguaio, através das entrevistas que fiz, é o seguinte: existe o cinema comercial, comandado por Gustavo Hernández. Ele dirigiu La Casa Muda (2010), a qual estreou em uma das mostras de Cannes, Dios Local (2014), e No Dormirás (2018). O cineasta Manuel Facal seria o meio-campista, pois ele transita pelo cinema independente, mas seus filmes mais recentes foram exibidos em cinemas, como Fiesta Nibiru (2017). Ele dirigiu uma comédia adolescente de grande êxito comercial no Uruguai em 2013, chamada Relocos y Repassados e isso definitivamente abriu portas para que os seus filmes seguintes fossem exibidos nos cinemas. Ele possui um estilo de filmar bem divertido, experimental, ousado, o qual atrai o público jovem. E por fim temos a cena independente, a qual tem revelado vários talentos, como os cineastas Marcelo Fabani e Miguel Torena

Ataque de Pânico! (2009)

Mas sabe o que é irônico? Nenhum desses diretores que eu citei é tão conhecido fora do Uruguai pela comunidade que consome filmes de terror. A maioria das pessoas só conhece mesmo um cineasta: Fede Álvarez, o uruguaio responsável por Evil Dead (2013) e Don’t Breathe (2016). Só que a única coisa que o cineasta fez no país foram três curtas, sendo o último o grande responsável pela sua ascensão meteórica, chamado Ataque de Pânico! (2009). O filme mostra a cidade de Montevidéu sendo destruída por robôs e, logo após a sua exibição no festival argentino Buenos Aires Rojo Sangre, Álvarez começou a ser disputado por estúdios de Los Angeles e acabou descolando um contrato com a produtora do diretor Sam Raimi, a Ghost House Pictures e... O resto é história.

ENTREVISTAS



ALGUNS FILMES DE TERROR DO URUGUAI











 

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